Portugal está no grupo de países onde a evolução do rendimento dos jovens mais se afastou da média nacional durante os anos de crise. Ainda assim, é um dos poucos onde a desigualdade não aumentou: a classe média foi poupada.
A conclusão é de um estudo do banco holandês ING intitulado “A Crise Desigual”, onde é identificada uma aceleração das desigualdades durante o período de crise financeira e económica (2007 a 2013) nos países desenvolvidos. Neste caso, a instituição financeira concentra-se na situação dos jovens, muitos dos quais com vínculos laborais precários.
“Jovens, muitas vezes em trabalho a tempo parcial ou com contratos de curto-prazo, sofreram particularmente com o crescimento da desigualdade. Entre 2007 e 2013, o fosso de rendimento entre quem tem 16 a 24 anos e quem tem mais de 65 anos cresceu 9% na Zona Euro e 23% nos Estados Unidos”, pode ler-se no relatório. Nas economias da moeda única, isso deveu-se a um crescimento de 3,5% do rendimento dos mais velhos e de 2% dos mais novos. Países periféricos como Portugal foram especialmente afectados, com agravamentos substanciais da sua taxa de pobreza (a Grécia, claro, a destacar-se).
Os jovens perderam terreno em relação aos outros escalões etários, mas isso sente-se mais em Portugal do que noutros países. “As maiores diferenças de crescimento entre jovens e a média são encontradas em Espanha, Grécia, Portugal, Reino Unido e EUA”, nota o relatório.
“Esta análise confirma a percepção de que a crise atingiu os jovens desproporcionadamente, não apenas porque as remunerações foram o principal factor por trás da quebra do rendimento das famílias, mas também porque os mais jovens eram os mais vulneráveis no mercado de trabalho.”
As maiores diferenças de crescimento entre jovens e a média são encontradas em Espanha, Grécia, Portugal, Reino Unido e EUA.
Portugal é também um caso atípico na distribuição do esforço de consolidação orçamental. Segundo o estudo do ING, os dois extremos da distribuição de rendimentos (mais pobres e mais ricos) foram os mais afectados pela crise, enquanto a classe média foi mais poupada. Os 5% mais pobres e os 5% mais ricos viram o seu rendimento cair 1,2% ao ano entre 2007 e 2013, enquanto os dois primeiros quintis da população portuguesa tiveram um reforço de 1,2% ao ano, durante os governos de José Sócrates e Pedro Passos Coelho.
Fonte:jornaldenegocios