As super-bactérias são uma perigosa e real ameaça à saúde pública e poderão tornar-se a primeira causa de morte em 2050. Esta «epidemia» poderá tornar-se mais mortal do que o cancro.
A resistência aos antibióticos mata cerca de 700 mil pessoas por ano em todo o mundo. Se nada for feito, as mortes poderão chegar aos 10 milhões em 2050, o que significa que estas bactérias ultra-resistentes poderão matar mais do que o cancro que, neste momento, vitima cerca de oito milhões de pessoas num ano.
O perigo é de tal forma sério que o assunto não é apenas abordado pela comunidade científica, já entrou na agenda política mundial. Na 72.ª assembleia das Nações Unidas, Tedros Adhanom, director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), deixou o aviso que o jornal espanhol El País citou. «Esta é uma ameaça terrível com grandes implicações para a saúde humana. Se não a abordamos, o avanço feito nos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) perder-se-a e recuaremos ao tempo em que as pessoas arriscavam a sua vida com uma infecção numa pequena cirurgia. É um problema urgente», referiu.
O uso exagerado de medicamentos em animais que entram na cadeia alimentar é um problema que está em cima da mesa.
O uso e abuso de antibióticos tornam as bactérias mais resistentes. Os antibióticos perdem efeito e o organismo pede medicação mais agressiva e tóxica para tentar expulsar as super-bactérias. O problema é tão sério que estas bactérias super-resistentes poderão tornar-se a primeira causa de morte daqui a 33 anos, mais mortais do que o cancro.
Há várias questões neste problema. O uso abusivo de antibióticos, as tomas que não vão até o fim não eliminando a bactéria do organismo, o uso exagerado de medicamentos em animais que entram na cadeia alimentar do ser humano. O que fazer? O El País avança que está a ser preparada uma campanha de sensibilização para médicos e enfermeiros para que se usem menos medicamentos, em 20 países.
«As bactérias que não resistem ao antibiótico morrem, as que resistem continuam a multiplicar-se e a passar os genes de resistência para as gerações seguintes», explica a investigadora Salomé Gomes.
As super-bactérias ganham super-poderes, genes de resistência, e ignoram que os antibióticos existem. É como uma selecção natural. «As bactérias que não resistem ao antibiótico morrem, as que resistem continuam a multiplicar-se e a passar os genes de resistência para as gerações seguintes [tornando-se mais fortes e resistentes]», explica à NM Salomé Gomes, investigadora na área de microbiologia e professora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto.
«A resistência das bactérias aos antibióticos “de primeira linha”, ou seja, aqueles usados mais habitualmente, aumenta a mortalidade por vários motivos: enquanto não se acerta com o antibiótico, a bactéria está sempre a multiplicar-se e a causar danos (sobretudo se o hospedeiro é frágil) que se podem tornar irreversíveis; os antibióticos de segunda escolha muitas vezes são-no porque têm efeitos secundários negativos (afectam o fígado, os rins, etc.)», acrescenta.